Chico Xavier

PRIMEIROS ANOS

Francisco Cândido Xavier nasceu em Pedro Leopoldo (MG), no dia 2 de abril de 1910. Filho de João Cândido Xavier, operário inculto, e de Maria João de Deus, humilde lavadeira, ficou órfão de mãe em 29 de setembro de 1915, aos cinco anos de idade.

Seu pai se viu obrigado a entregar alguns dos seus nove filhos aos cuidados de pessoas amigas e Chico Xavier ficou com sua madrinha, Maria Rita de Cássia, mulher nervosa que o maltratava cruelmente. Nos seus momentos de angústia, um anjo de Deus, que fora sua mãe na Terra, o assistia, quando, desarvorado, orava nos fundos do quintal: “Tenha paciência, meu filho! Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar”.

O menino aprendeu a apanhar calado, sem chorar. Diariamente, à tarde, com vergões na pele e o sangue a correr-lhe em delgados filetes pelo ventre, ele, de olhos enxutos e brilhantes, se dirigia para o quintal, a fim de reencontrar a mãezinha querida, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração.

Algum tempo depois, terminou seu martírio. Em dezembro de 1915, seu pai casou-se com Cidália Batista, e a madrasta, alma

boa e caridosa, o recolheu carinhosamente e a todos os irmãos que estavam espalhados.

A situação era difícil. A guerra acabara e grassava a gripe espanhola. O salário do chefe da família dava escassamente para o necessário e os meninos precisavam estudar.

Foi então que a boa madrasta teve uma idéia: plantar uma horta e vender os legumes. Em algumas semanas, o menino já estava na rua com o cesto de verduras. Desta forma, eles conseguiram encher o cofre e voltar a freqüentar as aulas.

Em janeiro de 1919, Chico Xavier começou a ser alfabetizado. Com a saída do chefe da casa para o trabalho e das crianças

para a escola, a madrasta era obrigada, algumas vezes, a deixar a casa, pois precisava buscar lenha à distância. Foi então que surgiu um problema: a vizinha, aproveitando-se da ausência de todos, passou a colher as verduras e, sem verduras, não

haveria dinheiro para as despesas da escola. Preocupada, a madrasta, não querendo ofender a amiga, sugeriu a Chico Xavier

que pedisse um conselho ao espírito de sua mãe.

À tardinha, o menino foi ao quintal e rezou como fazia sempre que queria conversar com a mãe e lhe contou o problema. Sua

mãe lhe disse que realmente não deviam brigar com os vizinhos e lhe deu uma sugestão: toda vez que sua madrasta precisasse se ausentar, que ela desse a chave da casa à vizinha, para que ela tomasse conta de tudo. Dessa forma, a vizinha, responsável pela casa, não tocou mais nas hortaliças.

Passados todos esses problemas, o menino não viu sua genitora com tanta freqüência, mas passou a ter sonhos. À noite, levantava-se agitado e conversava com locutores invisíveis. De manhã, contava as peripécias de pessoas mortas, coisas que ninguém podia compreender!

O pai resolveu levá-lo ao vigário de Matozinhos, que, após ouvi-lo, recomendou que o garoto não lesse mais jornais, revistas,

livros. Disse-lhe que ninguém volta a conversar depois da morte e que era o demônio que o estava perturbando.

O menino chorava nos braços de sua madrasta, criatura piedosa e compreensiva. Ao conversar com sua mãe, triste por não ser compreendido por ninguém, escutou dela que precisava modificar seus pensamentos, que não deveria ser uma criança indisciplinada, para não ganhar antipatia dos outros. Deveria aprender a se calar e que, quando se lembrasse de alguma lição

ou experiência recebidas em sonho, que ficasse em silêncio. Precisava aprender a obediência para que Deus, um dia, lhe

concedesse a confiança dos outros.

Em janeiro de 1919, começou a freqüentar o Grupo Escolar São José e a trabalhar numa fábrica de tecidos.

Levantava-se às seis da manhã para começar, às sete, as tarefas escolares; e entrava no serviço às três da tarde e saia às

onze da noite.

Durante sete anos consecutivos, de 1920 a 1927, ele não teve mais qualquer contato com sua mãe. Integrado na comunidade

católica, obedecia às obrigações que lhe eram indicadas pela Igreja. Confessava-se, comungava, comparecia pontualmente à

missa e acompanhava as procissões.

Em 1923, terminou o curso primário. Em 1925, deixou a fábrica, empregando-se na venda de José Felizardo Sobrinho, onde o

trabalho ia das seis e meia da manhã às oito da noite. As perturbações noturnas continuavam. Depois de dormir, caía em

transe profundo.

A primeira e única professora de Chico que descobriu sua mediunidade psicográfica foi d. Rosália. Fazia passeios campestres com os alunos que deveriam, no dia seguinte, levar-lhe uma composição, descrevendo o passeio. A de Chico tirava sempre o primeiro lugar.

Desconfiada, d. Rosália, um dia, fez o passeio mais cedo e, na volta, pediu que os alunos fizessem a composição em sua

presença. Novamente,Chico mereceu o primeiro lugar, escrevendo uma bela página sobre o amanhecer e daí tirando conclusões evangélicas. Rosália mostrou o texto aos amigos íntimos e todos foram unânimes em reconhecer que, se aquilo não fora copiado, era então dos espíritos.

ENCONTRO COM O ESPIRITISMO

Em 1927, uma de suas irmãs, Maria Xavier Pena, caiu doente e foi desenganada pelos médicos.

Um casal de espíritas, reunido com familiares da doente, realizou a primeira sessão espírita que teve lugar na casa e a doente foi curada. Na mesa, dois livros: O Evangelho segundo o Espiritismo e o O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.

Pela mediunidade de d. Carmem, Chico Xavier recebeu comunicação de sua mãe: “Meu filho, eis Grandes vultos – Chico Xavier Page 1 of 3que nos achamos juntos novamente. Os livros à nossa frente são dois tesouros de luz. Estude-os, cumpra com seus deveres e, em breve, a bondade divina nos permitirá mostrar a você seus novos caminhos.” A partir daí, ele começou a freqüentar reuniões espíritas.

EM PEDRO LEOPOLDO

Em junho de 1927, foi cogitada a fundação de um núcleo doutrinário, do qual Chico torna-se secretário. No final do mesmo ano, o Centro Espírita Luiz Gonzaga – sediadoem São Leopoldo,na residência de José Cândido Xavier, irmão de Chico e presidente da instituição – estava bem freqüentado. As reuniões se realizavam às segundas e às sextas-feiras.

A nova sede do Grupo Espírita Luiz Gonzaga foi construída no local onde se erguia, antigamente, a casa de Maria João de Deus, mãe de Chico Xavier.

Em 8 de julho de 1927, Chico Xavier fez sua primeira atuação mediúnica em público, ao psicografar mensagem de 17 páginas, com a assinatura final de “Um espírito amigo”. Em 1928, o matutino carioca O Jornal e, logo depois, o Almanaque de Notícias, de Portugal, publicaram suas primeiras mensagens psicografadas.

Em 1931, apareceu-lhe seu mentor espiritual, Emmanuel. No mesmo ano, Chico psicografou um poema do poeta fluminense

Casimiro Cunha (1880-1914), espírita convicto e confesso. Em março do mesmo ano, morreu Cidália Batista, madrasta e

amiga do médium.

Em julho de 1932, lançou seu primeiro livro psicografado, Parnaso de Além-túmulo, coletânea de 59 poemas assinados por 14

grandes poetas brasileiros já falecidos: Castro Alves, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos e Guerra Junqueiro, entre outros.

Em 1935, ao entrar para o funcionalismo público como datilógrafo, na Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo, do Ministério da

Agricultura, Chico começou a demonstrar sua admiração pela natureza. Trabalhando a seis quilômetros da cidade, em contato

com a natureza, amava até as pedras e os montes pensativos. Via em tudo poesia e oração, tratava as árvores como irmãs e

compreendia como poucos a alma do grande todo. Via em toda parte poesia e vida, verdade e luz, beleza e amor e, acima de

tudo, a presença de Deus!

Em 1939, passou a psicografar os trabalhos do escritor maranhense Humberto de Campos – desencarnado em 1934 – e, no mesmo ano, lançou o livro “Crônicas de Além-Túmulo”, com textos do escritor.

Em 1940, ficou gravemente doente. Os médicos previam um ataque de uremia, que não chegou a ocorrer.

Em 1944, foi processado pela família do escritor Humberto de Campos, que exigia parte dos direitos autorais dos livros

psicografados, mas a Justiça decidiu a favor do médium. A partir de então, o escritor falecido passou a usar o pseudônimo de

irmão X para identificar os livros psicografados posteriormente. No mesmo ano, publicou o livro Nosso Lar, verdadeiro bestseller entre as publicações espíritas, chegando à tiragem de 1.277.000 exemplares.

Em 1946, Chico Xavier adoeceu, vítima de tuberculose. Em 1951, foi operado de uma hérnia estrangulada.

Em 1950, Chico Xavier havia recebido, pela sua psicografia, mais de 50 ótimos livros. Vivia no apogeu de triunfos mediúnicos.

Estava conhecidíssimo no Brasil e no mundo inteiro. O Parnaso de Além-túmulo, por si só, valia pelo mais legítimo dos documentos, validando-lhe o instrumental mediúnico, o mais completo e seguro que o Espiritismo tem tido para lhe revelar as verdades, inclusive o intercâmbio das idéias entre os dois mundos.

Além disso, recebera romances, livros e mais livros, versando assuntos filosóficos, científicos e, sobretudo, realçando o

espírito da letra dos Evangelhos, escrevendo e traduzindo, de forma clara e precisa, suas lições consoladoras e imortais. 

 VOLTANDO PARA CASA

Em 18 de setembro de 1995, um enfisema pulmonar reduziu Chico a apenas 35 quilos e odeixou preso a uma cadeira de rodas. Não obstante, em 1997, o médium publicou o livro de poesias Traços de Chico Xavier; em 1998, o livro Caminho Iluminado, de Emmanuel; e, em 1999, seu último livro, Escada de Luz, totalizando 412 livros publicados – muitos deles traduzidos em diversas línguas e também em braille.

Em 27 de junho de 2001, Chico Xavier foi internado com pneumonia e seu estado foi considerado “delicado” pelos médicos. Durante dez dias, foi submetido a exames e a um tratamento com antibióticos. No dia 7 de julho, recebeu alta e deixou o hospital amparado pelo filho adotivo.

Em 30 de junho de 2002, um domingo, por volta das 19h30, o médium Chico Xavier desencarnou tranqüilamente em sua casa. Após ter solicitado que lhe fizessem a barba, o que aconteceria apenas na segunda-feira, ele se acomodou no leito, postou as duas mãos em atitude de prece e, simplesmente, parou de respirar.

EM UBERABA

Por orientação dos Benfeitores Espirituais, para fugir ao escândalo causado pelas declarações do sobrinho, Amauri Xavier Pena, que punha em dúvida a autenticidade de sua psicografia, Chico Xavier mudou-se para Uberaba, MG, em 5 de janeiro de 1959. Nessa mesma data, iniciou suas atividades mediúnicas, em reunião pública na Comunhão Espírita Cristã.

Nessa cidade, ele desenvolveu, então, uma peregrinação que se tornou famosa. Aos sábados, saindo da sede da Comunhão Espírita Cristã, Chico visitava alguns lares carentes, levando-lhes

a alegria de sua presença amiga, acompanhado por grande número de simpatizantes. Sob a luz das estrelas e de um lampião que seguia à frente, iluminando as ruas escuras da periferia, ia contando fatos de grande beleza espiritual.

Em 1960, publicou, em parceria com o também médium Waldo Vieira, o livro Mecanismos da Mediunidade. Em 1963, aposentou-se do serviço público. Em 1965, foi aos Estados Unidos para difundir o espiritismo e fazer um tratamento oftalmológico. Em 1969, viajou a São Paulo para submeter-se a uma cirurgia na próstata.

A cidade de Uberaba, desde achegada do médium, transformou-se num pólo de atração de inúmeros visitantes das mais

variadas regiões do Brasil, e até mesmo do exterior,com o objetivo de conhecê-lo e consultá-lo.

Seu trabalho sempre consistiu na divulgação doutrinária e em tarefas assistenciais, aliadas ao evangélico serviço do

esclarecimento e reconforto pessoais aos que o procuravam. 

Os direitos autorais de seus livros publicados, em torno de 340, são cedidos, gratuitamente, às editoras espíritas ou a entidades beneficentes. Materialmente, ele continuou tão pobre quantosempre foi.

Chico era um homem aposentado e recebia Grandes vultos – Chico Xavier Page 2 of 3somente os proventos de sua aposentadoria. Do ponto de vista espiritual, porém, Chico Xavier tornou-se, a cada dia mais rico: multiplicou os talentos que o Senhor lhe confiara, através do trabalho, da perseverança e da humildade. Com a saúde debilitada, Chico Xavier veio confirmando, nos últimos tempos, a sua condição de autêntico missionário do Cristo.

Impossibilitado de comparecer às reuniões do Grupo Espírita da Prece, ele reuniu suas últimas forças para continuar, em casa,

a tarefa da psicografia. E, embora fisicamente debilitado, continuou de ânimo firme, graças à grande capacidade de trabalho

de sua alma.

RECONHECIMENTO

Em janeiro de 1972, ao conceder uma entrevista de quatro horas na extinta TV Tupi, num programa chamado Pinga-Fogo, atraiu a audiência de cerca de 20 milhões de telespectadores.

Em junho de 1975, aos 65 anos de idade, anunciou que encerraria suas atividades mediúnicas, em virtude do desgaste físico e por não conseguir superar um processo de hipotensão surgido em 1973. Em 1976, teve sua primeira crise de angina de peito.

Em março de 1980, foi indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz de 1981, numa campanha liderada por Augusto César Vanucci, então diretor da Rede Globo. 

Em setembro de 1983, gravou mensagens de paz em quatro LPs, lançados pela gravadora Fermata. Os discos trouxeram apenas o nome de Chico Xavier na capa, ao lado de um desenho de seu rosto.

Em 28 de junho de 1985, João Francisco de Deus foi julgado inocente da morte de sua mulher, Gleide Maria Dutra, morta com um tiro no pescoço no dia 1º. de março de 1980. Cartas de Gleide psicografadas por Chico Xavier nove meses após sua morte, inocentando João Francisco, foram usadas pela defesa do acusado. 

Em 27 de fevereiro de 1993, foi procurado por Glória Perez, mãe da atriz Daniela Perez, assassinada no final de 1992. Glória pediu que Chico Xavier conversasse com sua filha, e o médium, atendendo-a, intercedeu também pelos assassinos,aconselhando Glória que se empenhasse no caminho do perdão.